Lula assume operação para blindar Erenice e culpar Serra por denúncias

"Apoio. Dilma só falou sobre o caso após saber o que os ministros haviam dito"

Coube ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o comando da contraofensiva do governo e da coordenação da campanha da petista Dilma Rousseff para inocentar a ministra Erenice Guerra e jogar no tucano José Serra a culpa pela repercussão das denúncias de envolvimento da auxiliar, de um filho dela e de familiares em tráfico de influência na Casa Civil.

Erenice Guerra, que sempre atuou como braço direito de Dilma, animou-se com o apoio do presidente. Ao saber que ficaria no governo, divulgou nota à imprensa com ataques a Serra, qualificando-o de 'aético' e 'derrotado'.

'Chamo a atenção do Brasil para a impressionante e indisfarçável campanha de difamação que se inicia contra minha pessoa, minha vida e minha família, sem nada poupar, apenas em favor de um candidato aético e já derrotado, em tentativa desesperada da criação de um fato novo que anime aqueles a quem o povo brasileiro tem rejeitado', disse ela.

Lula e o comando da campanha de Dilma mostravam muita preocupação com a possibilidade de as denúncias contra Erenice tirarem votos de Dilma. Por isso, decidiram pela rápida reação. Pela manhã, o presidente chamou os ministros mais próximos para uma conversa. Concluíram que o melhor seria anunciar que a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) vão investigar se Israel Guerra, filho da ministra, está envolvido num esquema de tráfico de influência dentro da Casa Civil e cobrança de propina de empresários, como revelou a revista Veja.

Entrevistas. Lula determinou que o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, convocasse entrevista coletiva, para informar a entrada da PF no caso, e que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciasse uma medida positiva em sua área, para se contrapor às denúncias de quebra de sigilo fiscal de contribuintes, fato muito explorado pela campanha de Serra.

A exemplo de Barreto, Mantega convocou entrevista coletiva. Anunciou que o sigilo fiscal de políticos ficará mais protegido do que o dos demais cidadãos.

Em seguida, a defesa do governo ficou por conta do ministro Jorge Hage, da Controladoria-Geral da União. Ele afirmou que a CGU vai auditar contratos mencionados nas reportagens sobre supostas irregularidades na Casa Civil. A respeito dos pedidos feitos formalmente por Erenice para que a PF e a CGU analisem as reportagens, Hage comentou: 'É importante que ela manifeste interesse em esclarecer o caso e isso influencia na prioridade da apuração.' Mas não há prazo para as respostas. O governo trabalha com calendário curto - 18 dias - para abafar o tema, pois a eleição presidencial será no dia 3 de outubro.

Já Dilma, que no debate entre os candidatos na RedeTV!, no domingo, se recusou a pôr a mão no fogo por Erenice, além de pedir que todas as denúncias fossem apuradas da forma mais severa possível, também concedeu entrevista para defender sua ex-auxiliar tanto no Ministério de Minas e Energia quanto na Casa Civil.

Marcada para as 15h30, a entrevista de Dilma só ocorreu duas horas depois. Desta vez, a candidata apoiou Erenice e também acusou Serra de estar por trás das acusações.

A ministra da Casa Civil não se contentou apenas com a nota à imprensa. Divulgou outras duas, nas quais apresentou cópia dos ofícios encaminhados ao Ministério da Justiça e à Controladoria-Geral da União em que pede para ser investigada.

No primeiro, solicitou a adoção de 'procedimentos cabíveis' para averiguar as denúncias contra ela e sua família (no dia anterior a própria Polícia Federal já havia anunciado que iria entrar no caso); no segundo, requereu à CGU auditoria em contratos e procedimentos que passaram por ela. / COLABOROU MARTA SALOMON

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